Semana passada assisti
“Guerra Mundial Z”, e fiquei tão impressionado com o filme que
resolvi ler o livro homônimo de Max Brooks, no qual o filme é
vagamente inspirado. Não me decepcionei.
O ritmo do filme (filme
que, aliás, é o mais caro da história do cinema), é frenético
desde o início. Tirando uma cena doméstica no início que não
serve pra muita coisa, não é exagero dizer que em nenhum momento se
tem mais do que 3 minutos pra respirar entre uma fuga e outra. A
sensação de que “dessa vez não vai dar” é permanente, sem
contudo comprometer a credibilidade da narrativa (claro, até o ponto
em que um filme sombre zumbis possa ser crível).
Os zumbis do filme são
uma força da natureza, rápidos e letais como um tsunami que fica
mais forte a medida que avança, mas não tão inteligentes quanto os
de “Eu sou a lenda” (inspirado no conto de Richard Matheson, o
pai das modernas histórias de zumbis, publicado no Brasil pela Novo
Século). As semelhanças com a história protagonizada no cinema por
Will Smith não param por aí. Aqui também os zumbis são uma
epidemia que alastra antes que qualquer um possa pensar em fazer algo
a respeito, dizimando quase toda a espécie humana e arrasando
cidades inteiras. Mas enquanto “Eu sou a lenda” é um filme
solitário, “Guerra Mundial Z” é épico em todos os aspectos. O
personagem principal, Gerry Lane (vivido por Brad Pitt), é um
enviado da ONU que precisa descobrir onde a praga surgiu, em busca de
pistas sobre como eliminá-la. Em outras palavras, ele vai atrás de uma cura (outra
coincidência com “Eu sou a lenda”).
Entre pistas falsas,
perseguições e fugas impossíveis (como escapar de um avião de
carreira em pleno vôo lotado de zumbis?), há muito tempo não me
divertia tanto no cinema.
Já o livro, cujo autor
é filho do Mel Brooks, é mais uma paródia, não só com as
histórias de mortos-vivos, mas principalmente com a paranóia
norte-americana após os atentados de 11 de setembro. Os zumbis
enquadram-se perfeitamente nessa ideia de que o cara ao seu lado pode
ser o inimigo, que vai te atacar quando você menos esperar e por
onde você menos esperar.
Diferentemente do
filme, o livro é uma espécie de relato jornalístico, um livro
fictício de histórias pessoais escrito e publicado 12 anos após o
fim da guerra da humanidade contra os zumbis. Seu autor é o mesmo
enviado das Nações Unidas retratado no filme, mas ao invés de ser
a ponta de lança dos esforços de guerra humanos contra o inimigo
comum, ele é um burocrata que viaja pelo mundo colhendo relatos de
quem lutou e sobreviveu nessa guerra. Assim, o leitor só recolhe
fragmentos de fatos, ainda assim contaminados pelo ponto de vista de
quem os está contando, seja o empresário inescrupuloso que lucrou
bilhões vendendo uma cura falsa, seja o marinheiro chinês parte da
tripulação de um submarino nuclear chinês que desertou, seja o
vice-presidente dos Estados Unidos Continentais.
Por falar em Estados Unidos Continetais, o autor brinca com o que seria esse mundo pós-apocalíptico, com uma Cuba que se
tornou o centro financeiro do mundo (ainda sob a batuta de Fidel),
uma Coréia do Norte que virou um ponto silencioso no mapa (ninguém
sabe o que houve com os norte coreanos e ninguém quer entrar lá pra
descobrir), uma Rússia que virou um Sacro Império e um Japão
reinstalado em algum lugar da Polinésia.
Depois do cinema, desde
“Entrevista com o Vampiro”, ter estragado a mitologia de Bram
Stocker com vampiros que vão da metrossexualidade a emos assumidos,
é bom ver que os monstros humanos estão recolocados no lugar
assustador de onde nunca deveriam ter saído. Filme e livro são
extremamente divertidos.
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